Espaço, Tempo e Patrimônio dos Bairros Cariocas
(...) mas a cidade não conta seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grandes janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros, bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras (...). Ítalo Calvino, 1990
01 abril 2012
Seminários 2012 - Guilherme Azeredo
04 outubro 2011
Nossas próximas atividades:
03 outubro 2011
Sexto Seminário - Parte IV
a apresentação ocorrida no dia 27 de setembro manteve continuidade ao seminário do dia 23, adicionando mais conhecimentos de fator metodológico ao nosso futuro trabalho de campo, e contou com a ilustre presença de André Novaes, que compartilhou conosco os bastidores de seu documentário “Vulgo Sacopã”, participando de nossas discussões.
O seminário iniciou-se com a apresentação do artigo Pesquisa de campo qualitativa: uma vivência em geografia humanista (Chiapetti, 2010) cujo propósito é relatar a metodologia e a aplicação desta em uma pesquisa de campo qualitativa: Aquela que tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social fazendo-se uso de dados qualitativos a exemplo de entrevistas e observação de campo. A autora aplica tais métodos em sua pesquisa na região do Rio das Contas, em Itacaré, Bahia, optando por entrevistas abertas como principal estratégia metodológica em campo.
Segundo a autora, as principais características de uma pesquisa qualitativa são:
· Utilizar da vivência com o grupo social no ambiente o qual este se insere para compreender a percepção e a relação entre eles, o que uma pesquisa quantitativa não permite;
· Tomar uso de aspectos subjetivos, não explícitos ou conscientes dos sujeitos da pesquisa;
· Contribuir para a valorização do lugar enquanto elemento humanizado, pois é uma pesquisa que considera afetividade e sentimentos humanos;
· A oralidade de cada sujeito como ferramenta única e distinta de pesquisa, pois este “fornece [...] elementos que nenhuma outra fonte seria capaz de dar, podendo revelar sentimentos, significados e simbolismos” (CHIAPETTI, 2010:145), assim manifestando informações sobre o coletivo com aspectos emocionais e vivências individuais.
Em seguida, Chiapetti transmite as aplicações metodológicas na sua pesquisa de campo em Itacaré. Os aspectos mais importantes abordados pela autora foram:
· A opção pela observação não-estruturada, pois procura “registrar os fatos como e na medida em que ocorrem” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:149), como decorrência de fenômenos que surgem de imprevisto, e a opção pela entrevista aberta pois “consiste num diálogo entre o pesquisador e o sujeito participante” (LÜDKE e ANDRÉ apud CHIAPETTI, 2010:148), onde o pesquisador apenas conduz o sujeito para que este não perca o foco do assunto o qual deve ser abordado;
· A importância de Jefferson, morador local, que além de conhecer bem o município, mantinha laços de respeito e afetividade pelos moradores, e segundo a autora, sem ele seria quase impossível fazer as entrevistas, pois demandaria muito tempo para os moradores locais confiarem em quem não conhecem para compartilharem fatos de suas vidas;
· Os critérios para a seleção de sujeitos entrevistados, que foram espontaneidade e voluntarismo (ser entrevistado de livre vontade);
· A definição do ponto de saturação como “quando as informações novas vão ficando cada vez mais raras, até deixarem de ser relevantes” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:153);
· A caracterização dos sujeitos da pesquisa, “já que eles não são, somente, fonte de informação, mas também autores, pois suas vivências no rio das Contas [...] foram nossas fontes de reflexão” ( CHIAPETTI, 2010:148);
· A leitura das emoções do entrevistado: De seus gestos e olhares à sua entonação de voz, o que contribuiu para a veracidade das informações coletadas, dando o valor emotivo que cabe a cada afirmação;
· A transcrição dos dados coletados, primeiramente transcrevendo-os sem haver preocupação de limpar o texto e de corrigir erros gramaticais, pois nestes fatos ainda podem conter emoções captáveis, para a sua então correção, tomando cuidado para não alterar os significados dados pelos sujeitos.
Enfim, a autora afirma que o método e técnicas adotadas para a pesquisa de campo corresponderam aos objetivos de uma pesquisa qualitativa, e ela ainda agrupa a interpretação das entrevistas coletadas em quatro grupos: Trabalho, subsistência, pertença e alegria. Essas quatro categorias conteriam os laços de afetividade sentidos na relação dos sujeitos com o que o rio representa para eles, e finalmente, a autora conclui que os significados dados ao rio pelos locais são inseparáveis da emoção.
Este texto não apenas nos auxilia com relação aos métodos, mas também cita as ferramentas de uso que utilizaremos em nossa pesquisa, no caso, a oralidade a partir de entrevista aberta e observação não estruturada, e aborda o que deve ser feito ao seu término, relatando o processo de transcrição de dados. Ainda, o texto conclui-se dando margem ao debate: Quais serão as nossas categorias de interpretação de dados coletados?
Por fim, Dr. André Reyes Novaes, professor de geografia humana da UERJ, comentou conosco fatos a serem abordados de seu filme “Vulgo Sacopã” e de sua pesquisa sobre o morro atrelada a este filme que são aplicáveis a nossa pesquisa, tal como a metodologia por trás dos depoimentos fornecidos por Toni B, personagem principal do filme, que encaixam perfeitamente com nossa pesquisa de campo que em comum explora da oralidade uma de suas principais fontes de pesquisa.
Miguel de Sousa.
02 outubro 2011
Sexto Seminário - Parte III
Sexto Seminário- Parte II
29 setembro 2011
Sexto Seminário - Parte I
O sexto seminário, realizado no dia 21 de setembro, contou com apresentações de textos mais técnicos, onde discutimos sobre o método de pesquisa que será utilizado durante o trabalho de campo.
Eu fui a primeira condutora do dia e meu texto foi “Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo” de Rosália Duarte. O texto foi baseado em uma pesquisa onde o objeto de estudo era o processo de formação do cineasta brasileiro e discutiam-se as dificuldades enfrentadas por pesquisadores em trabalho de campo, com relação ao uso de metodologias de base qualitativa, e tentava-se também solucionar alguma dessas dificuldades para contribuir com a adoção deste tipo de pesquisa.
O texto se inicia comparando a pesquisa como um relato de longa viagem, onde cada pessoa tem uma diferente experiência ou lembrança sobre um mesmo lugar, onde cada um lança, sobre uma determinada realidade, um olhar. Logo depois temos a “construção do objeto” (Brandão, 2000) que seria a escolha do objeto de estudo e a utilização da metodologia mais adequada para a análise do mesmo.
-“Se nossas conclusões somente são possíveis em razão dos instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso dos instrumentos permite chegar, relatar procedimentos de pesquisa, mais do que cumprir uma formalidade, oferece a outros a possibilidade de refazer o caminho e, desse modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos.” (Duarte, 2002:140)
A partir daqui começam a surgir os problemas que podem ocorrer durante uma pesquisa de base qualitativa.
-1º problema: A importância da seleção de sujeitos
Neste primeiro problema a autora nos mostra que a seleção de sujeitos para a realização de entrevistas é algo muito importante, já que isso refletirá diretamente na qualidade das informações coletadas e a partir das quais serão construídas análises sobre o objeto de estudo. Então como saber quem entrevistar? Na pesquisa a qual este texto foi baseado foi utilizado um método de rede social, onde a partir de uma pessoa daquele meio cultural era possível conhecer outras cada vez mais importantes no setor.
-2º problema: O que importa é qualidade e não quantidade.
Neste tópico nota-se a importância da qualidade da informação e não a da quantidade de sujeitos. Independente de quantas pessoas são entrevistadas devemos estar sempre atento as informações que estas nos passam.
Este tipo de trabalho de campo tem como objetivo “compreender as redes de significado a partir do ponto de vista do ‘outro’, operando com a lógica e não apenas com a sistematização de suas categorias” (Dauster, 1999 apud Duarte, 2002:145)
-3º problema: Onde realizar as entrevistas.
Deve-se evitar que as entrevistas sejam realizadas em local de trabalho, porque isto tira toda atenção do entrevistado, ele fica preocupado com ligações e decisões e torna a entrevista improdutiva. O melhor lugar para a realização das mesmas é na casa do entrevistado, pois há menos preocupação com o tempo, há mais liberdade de expressão, além de serem mais densas e produtivas.
-4º problema: Entrevista exige experiência.
Por mais que você saiba o que está buscando, você só aprende a melhor maneira de conduzir uma entrevista, a melhor postura adequada, a analisar gestos, a avaliar seu grau de indução com a experiência, e assim podemos nos avaliar e corrigir.
-5º problema: Risco de perder o foco da entrevista.
A melhor maneira de se coletar depoimentos é deixar o entrevistado livre para expressar seus ideais, contar seus gostos e experiências. No entanto, isso pode fazer com que a entrevista perca seu foco se informações que não são interessantes a pesquisa começarem a surgir, então cabe ao entrevistador conduzi-la de volta ao foco.
-6º problema: O entrevistador, o entrevistado e um mesmo universo cultural.
Essa proximidade pode causar uma interferência muito grande no discurso dos sujeitos e pode-se perder os diferentes pontos de vistas que a pesquisa qualitativa pode oferecer, então deve-se haver um distanciamento.
-7º problema: Garantia de confiabilidade.
Como saber se as informações colhidas são verídicas? O texto apresenta dois métodos: apresentar estas informações a pessoas que não fazem parte da entrevista e que participam daquele meio cultural para que estas validem as informações ou apresenta-se parte do material bruto ao leitor para que o mesmo possa tirar suas próprias conclusões.
-8º problema: As perguntas.
O roteiro da entrevista deve ser constantemente revisado para que caso haja alguma pergunta ambígua ou que gere informações descartáveis, esta seja retirada ou reformulada, porque ao tentar explicar uma pergunta podemos acabar dizendo ao entrevistado o que esperamos que ele responda.
-9º problema: dificuldade em arquivar o material recolhido.
Métodos qualitativos fornecem dados densos e difíceis de analisar, toda e qualquer forma de contato é um material de análise, desde um telefonema, um email, uma carta, gestos e sinais do entrevistado até a postura e o interesse do mesmo pela pesquisa. Logo, o primeiro passo a seguir é organizar e separar em categorias todas as informações. Para facilitar esta parte, a autora indica dois programas Folio Views e NUD*IST que gerenciam e exploram diferentes documentos, criam categorias, fazem cruzamentos, uniões, importam e exportam dados, armazenam idéias, além de estabelecer possíveis análises para a construção de hipóteses e a construção de teoria a partir de combinação de materiais.
-“Assim, fragmentos de discursos, imagens, trechos de entrevistas, expressões (...) constituem traços, elementos em torno dos quais construir-se-ão hipóteses e reflexões, serão levantadas duvidas ou reafirmadas convicções.” (Duarte,2002:152)
-“Daqui pra frente trata-se de produzir “resultados” e explicações cujo grau de abrangência e generalização depende do tipo de ponte que se possa construir entre o microuniverso investigado e universos sociais mais amplos.” (Duarte,2002:152)
De acordo com este texto, concluímos que devemos sim adotar o método de pesquisa qualitativa pois é o que mais se encaixa na nossa proposta. Devemos apenas tomar cuidado para que não ocorra os problemas indicados acima e utilizar as dicas dadas pela autora.
Caroline Araujo.
24 setembro 2011
Quinto Seminário
No dia quatorze de setembro foi realizado o quinto seminário do projeto, onde contamos com três textos: “Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro”, “História do tempo presente: desafios” e “Muito além do espaço: por uma história cultural do urbano”, conduzidos respectivamente por Luiza Tulani, Hellen Lugon e Lana Monteiro.
O texto trata da nova história, um movimento em que não há como definir, sem correr o risco de apresentar uma vaga descrição, como sendo a história total ou história estrutural, sendo assim o autor se baseia naquilo a que o movimento se opõe, apresentando seis pontos fortes e fracos.
“A nova história é a história escrita como uma reação deliberada contra o ‘paradigma tradicional’ (...). Será conveniente descrever este paradigma tradicional como ‘história rankeana’” que seriam os ideais positivistas, sendo assim, a nova história se opõem a essas idéias que expressam certo limite de visão na hora da análise dos acontecimentos.
Para melhor compreensão, o ou ator divide em seis pontos o contraste entre a nova história e a antiga, história tradicional, que foram titulados para melhor análise durante o seminário:
A história tradicional era apenas analisada o âmbito político e operário (marxista e positivista), o autor vem neste ponto apresentar a análise da história, de outros âmbitos, como por exemplo, o social, analisando a relação das famílias, de como as mesma e o sujeito influenciaram na formação da cultura.
“O que era previamente imutável é agora encarado como uma ‘construção cultural’, sujeita a variações tanto no tempo quanto no espaço” (BURKE, P., 1992:11)
- História dos acontecimentos X Análises das estruturas
O estudo dos acontecimentos por si só, pela sua parte de maior destaque, versus a sociedade a que estava inserido, e no quanto esses acontecimento afetaram os costumes locais e o quanto essa sociedade afetou o acontecimento (movimento, revoluções etc.)
- História “vista de cima” (tradicional) x História vista de baixo
Qual seria a verdadeira história: A dos grandes feitos ou as opiniões de pessoas comuns e o quanto esses feitos mudaram sua rotina?
- História baseada em documentos
Segundo o paradigma tradicional (história rankeana) a história deveria ser baseada em documentos.
- “A história é objetiva” (BURKE, P. 1992:15)
Para o paradigma social “a tarefa do historiador é apresentar aos leitores os fatos (...) ‘como eles realmente aconteceram’” (BURKE, P., 1992:15)
Por fim o autor apresenta os problemas do paradigma tradicional:
· Problemas de definição (BURKE, P., 1992:19) – Por onde deve ser analisada a história e determinada como verdadeira, no quanto a estrutura do cotidiano interfere nas mudanças ocorridas na sociedade, e vice-versa.
· Problemas das fontes (BURKE, P., 1992:25) – Os documentos podem ser manipulados, sendo assim, o quanto seriam verídicos estes documentos?
· Problemas de Explicação (BURKE, P., 1992:31) – “Quem são os verdadeiros agentes na história, os indivíduos ou os grupos?”
· Problemas de síntese (BURKE, P., 1992:35) – Ocorre devido à expansão do universo do historiador, sendo assim ele dialoga melhor com outras de disciplina, do que suas próprias subdisciplinas.
“O historiador americano Michael Kammem pode bem estar em sua sugestão de que o conceito de ‘cultura’, em seu sentido amplo, antropológico, pode servir como uma ‘base possível’ para a reintegração’ de diferentes abordagens a história” (BURKE, P., 1992:37)
O segundo texto, de Verena Alberti, problematiza a noção do que seria a História do Tempo Presente e o uso desta por historiadores e cidadãos comuns.
Passa pela antiguidade clássica em que testemunhos diretos eram preservados, e posteriormente vai a França do século XIX cuja história era aliada da literatura e filosofia. Com a III república francesa essa história ganha uma metodologia que a distancia criticamente do presente, e é reavaliada após a segunda grande guerra com a inserção pela École de Annales do estudo socioeconômico. Ou seja, a história contemporânea antes estudada por amadores de forma pedagógica (para formar cidadãos), sem métodos e críticas passa a estudar as estruturas por trás do manifesto, antes ocultas pelos historiadores quantitativos. Memória e história formam um par fundamental nos anos noventa em que esta história volta a se interessar pelo individualismo informativo mesmo que subjetivo, dando forma a uma visão cultural além das demais adquiridas no pós-guerra. Rompe-se então a idéia de que é necessária uma distância temporal para que se estude história de maneira metódica e atualmente esta é estudada qualitativamente e quantitativamente. Fica portanto a citação de Hobsbawm Eric e apud Bernstein Serge, 1993 (pág 9) que resume o trecho comentado:
“O tempo presente é o período durante o qual se produzem eventos que pressionam o historiador a revisar a significação que ele dá ao passado, a rever as perspectivas, a redefinir as periodizações, isto é, a olhar em função do resultado de hoje, para um passado que somente sob essa luz adquire significação”
O terceiro texto tem por objetivo desenvolver estratégias teórico-metodológicas para uma nova leitura da cidade, através de um novo paradigma baseado na cultura. Assim conseguiríamos alcançar a realidade por meio de representações coletivas. O historiador que tem por objetivo descobrir a cidade por esse método deve se utilizar não só o seu universo de conceitos metodológicos e seu conhecimento prévio sobre o urbano, mas também as estratégias propostas: contraste de imagens de representação coletiva, a superposição através do recolhimento de fragmentos que falem sobre o passado, cruzar práticas e representações, dados objetivos e percepções subjetivas e manter uma abertura na tentativa de enxergar além do que já foi visto e trazer para o presente as cidades do passado.
“A descoberta da cidade é a de um labirinto do vivido eternamente renovável, onde o indivíduo que nele adentra não é um ser completamente perdido ou sem rumo. É alguém que lida com memória e sensação, experiência e bagagem intelectual, recolhendo os microestímulos da cidade que apresentam caminhos que se abrem e se fecham.” (Moles, 1984, apud Pesavento, 1995:288)
Esse texto, de Sandra Jatahy Pesavento, foi importante para nossa pesquisa, pois nos fez refletir sobre as diferentes visões sobre o bairro que certamente encontraremos na nossa pesquisa de campo, cabendo a nós utilizar as estratégias propostas na tentativa de resgatar a historia local.
Hellen Lugon, Lana Monteiro e Luiza Tulani
17 setembro 2011
Quarto seminário
- “O setor político é um daqueles que mais são marcados pela história, um daqueles em que melhor se aprendem as incompatibilidades, as contradições e as tensões inerentes à toda a sociedade.” (BALANDIER, 1976:192)
- História de vida como método que “permite compreender el aspecto subjetivo de los muy estudiados procesos institucionales” (BECKER, 1974:34-5)
07 setembro 2011
Terceiro Seminário II
Terceiro Seminário - I
O terceiro seminário foi realizado no dia 31 de Agosto e abordou dois textos, um conduzido pela Luiza Serafim e outro pela Renata Nogueira.
O primeiro texto apresentado foi “O Mar por Tradição: o património e a construção das imagens do turismo” de Elsa Peralta. Esse texto é um artigo, que “analisa a forma como o patrimônio é utilizado para fornecer o suporte cenográfico à construção dos destinos turísticos.” (Peralta, 2003). A autora usa como exemplo a cidade de Ílhavo, Portugal, onde a forte tradição pesqueira decaiu por conta de restrições à pesca nos anos de 1970 e, como conseqüência, o governo decidiu apostar no turismo.
Assim, ela começa analisando os usos do patrimônio, que são de grande importância para a construção do destino turístico, principalmente em cidades como Ílhavo. Há, inicialmente, o uso com valor de Identificação Simbólica, o uso para Recriação da História e o uso do Poder Político. Podemos destacar algumas citações, que apresentam esses usos:
“[O patrimônio] É uma síntese simbólica, permeável às flutuações da moda e aos critérios de gosto dominantes e matizada pelo figurino intelectual, cultural e psicológico de uma época, que compreende todos aqueles elementos que fundam a identidade de um grupo e que os diferenciam dos demais.” (Talavera, 1998, apud Peralta, 2003:85)
“O património, como interpretação do passado, é uma recriação da história, que emana visões essencialistas do passado e neutraliza as contingências históricas. É história ficcionada através da mitologia, da ideologia e do nacionalismo [...] O legado patrimonial é, assim, um legado falsificado para fins de identificação coletiva” (Peralta, 2003:86)
“O património fornece os símbolos para a criação de uma “mitologia retrospectiva”, um conjunto de representações que favorece a coesão social ao mesmo tempo que legitima as instituições sociais que emanam estes mitos na medida em que suprimem a contradição e a tensão, as dialécticas desfragmentadoras da realidade e a contestação” (Hobsbawm, 1992, apud Peralta, 2003:86)
Posteriormente, a autora analisa o uso do patrimônio a partir do aproveitamento turístico, que também se encaixa em Ílhavo, mostrando assim, o que se foi pensado para a diferenciação de Ílhavo como destino turístico e como se deu a criação do slogan “ O Mar por Tradição”, que seria um Mar maior, de cultura, história e identidade; pura representação de Ílhavo.
Ela cita Selwyn (1996, apud Peralta, 2003:88) “[...] o que faz com que um destino turístico seja atractivo é o facto de se pensar que tem uma característica especial, um ‘espírito de lugar’ especial [...]” e também McCannell (1976, apud Peralta, 2003, p.88-89) que diz que a motivação do turista se dá a partir do desejo de “recuperação mitológica das estruturas tradicionais que conferiam à vida um sentido de totalidade e que foram demolidas pela modernidade”. A partir disso, pode-se dizer que se busca o “outro autêntico” para assim encontrar o “eu autêntico” (Selwyn, 1996, apud Peralta, 2003:89).
Conclui-se assim, que existe uma reciprocidade, “uma relação de complementaridade e retroalimentação” entre os usos do patrimônio.
“[...] a valorização dos destinos turísticos varia em função do grau de sacralização que lhes é conferido.” (Graburn, 1989, apud Peralta 2003:93)
Luiza Serafim.