03 outubro 2011

Sexto Seminário - Parte IV

a apresentação ocorrida no dia 27 de setembro manteve continuidade ao seminário do dia 23, adicionando mais conhecimentos de fator metodológico ao nosso futuro trabalho de campo, e contou com a ilustre presença de André Novaes, que compartilhou conosco os bastidores de seu documentário “Vulgo Sacopã”, participando de nossas discussões.

O seminário iniciou-se com a apresentação do artigo Pesquisa de campo qualitativa: uma vivência em geografia humanista (Chiapetti, 2010) cujo propósito é relatar a metodologia e a aplicação desta em uma pesquisa de campo qualitativa: Aquela que tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social fazendo-se uso de dados qualitativos a exemplo de entrevistas e observação de campo. A autora aplica tais métodos em sua pesquisa na região do Rio das Contas, em Itacaré, Bahia, optando por entrevistas abertas como principal estratégia metodológica em campo.

Segundo a autora, as principais características de uma pesquisa qualitativa são:

· Utilizar da vivência com o grupo social no ambiente o qual este se insere para compreender a percepção e a relação entre eles, o que uma pesquisa quantitativa não permite;

· Tomar uso de aspectos subjetivos, não explícitos ou conscientes dos sujeitos da pesquisa;

· Contribuir para a valorização do lugar enquanto elemento humanizado, pois é uma pesquisa que considera afetividade e sentimentos humanos;

· A oralidade de cada sujeito como ferramenta única e distinta de pesquisa, pois este “fornece [...] elementos que nenhuma outra fonte seria capaz de dar, podendo revelar sentimentos, significados e simbolismos” (CHIAPETTI, 2010:145), assim manifestando informações sobre o coletivo com aspectos emocionais e vivências individuais.

Em seguida, Chiapetti transmite as aplicações metodológicas na sua pesquisa de campo em Itacaré. Os aspectos mais importantes abordados pela autora foram:

· A opção pela observação não-estruturada, pois procura “registrar os fatos como e na medida em que ocorrem” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:149), como decorrência de fenômenos que surgem de imprevisto, e a opção pela entrevista aberta pois “consiste num diálogo entre o pesquisador e o sujeito participante” (LÜDKE e ANDRÉ apud CHIAPETTI, 2010:148), onde o pesquisador apenas conduz o sujeito para que este não perca o foco do assunto o qual deve ser abordado;

· A importância de Jefferson, morador local, que além de conhecer bem o município, mantinha laços de respeito e afetividade pelos moradores, e segundo a autora, sem ele seria quase impossível fazer as entrevistas, pois demandaria muito tempo para os moradores locais confiarem em quem não conhecem para compartilharem fatos de suas vidas;

· Os critérios para a seleção de sujeitos entrevistados, que foram espontaneidade e voluntarismo (ser entrevistado de livre vontade);

· A definição do ponto de saturação como “quando as informações novas vão ficando cada vez mais raras, até deixarem de ser relevantes” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:153);

· A caracterização dos sujeitos da pesquisa, “já que eles não são, somente, fonte de informação, mas também autores, pois suas vivências no rio das Contas [...] foram nossas fontes de reflexão” ( CHIAPETTI, 2010:148);

· A leitura das emoções do entrevistado: De seus gestos e olhares à sua entonação de voz, o que contribuiu para a veracidade das informações coletadas, dando o valor emotivo que cabe a cada afirmação;

· A transcrição dos dados coletados, primeiramente transcrevendo-os sem haver preocupação de limpar o texto e de corrigir erros gramaticais, pois nestes fatos ainda podem conter emoções captáveis, para a sua então correção, tomando cuidado para não alterar os significados dados pelos sujeitos.

Enfim, a autora afirma que o método e técnicas adotadas para a pesquisa de campo corresponderam aos objetivos de uma pesquisa qualitativa, e ela ainda agrupa a interpretação das entrevistas coletadas em quatro grupos: Trabalho, subsistência, pertença e alegria. Essas quatro categorias conteriam os laços de afetividade sentidos na relação dos sujeitos com o que o rio representa para eles, e finalmente, a autora conclui que os significados dados ao rio pelos locais são inseparáveis da emoção.

Este texto não apenas nos auxilia com relação aos métodos, mas também cita as ferramentas de uso que utilizaremos em nossa pesquisa, no caso, a oralidade a partir de entrevista aberta e observação não estruturada, e aborda o que deve ser feito ao seu término, relatando o processo de transcrição de dados. Ainda, o texto conclui-se dando margem ao debate: Quais serão as nossas categorias de interpretação de dados coletados?

Por fim, Dr. André Reyes Novaes, professor de geografia humana da UERJ, comentou conosco fatos a serem abordados de seu filme “Vulgo Sacopã” e de sua pesquisa sobre o morro atrelada a este filme que são aplicáveis a nossa pesquisa, tal como a metodologia por trás dos depoimentos fornecidos por Toni B, personagem principal do filme, que encaixam perfeitamente com nossa pesquisa de campo que em comum explora da oralidade uma de suas principais fontes de pesquisa.

Miguel de Sousa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário