02 outubro 2011

Sexto Seminário - Parte III

A análise e apresentação do artigo “Questões sobre pesquisa qualitativa e pesquisa fenomenológica” (Holanda, 2006) ficou sob minha responsabilidade. O ponto de partida do autor no artigo é a célebre frase do filósofo e, considerado um dos pais da Fenomenologia, Merleau-Ponty, segundo a qual “é o homem que investe o mundo de significados”. Tal frase encaminha a natureza do artigo cujo objetivo é debater acerca do método fenomenológico aplicado nas chamadas pesquisas qualitativas desenvolvidas na psicologia, entendendo esse método como um modelo compreensivo.
Após apontar uma possível, uma vez que são inúmeras, definição dos métodos qualitativos segundo o sociólogo francês Laurent Mucchielli que sugere que a impossibilidade de medida dos fenômenos humanos é o que se encarrega de definir um método específico das ciências humanas.
Essa seria uma definição metodológica dos métodos, mas haveria, segundo Holanda (2006) uma definição epistemológica uma vez que a investigação qualitativa inclui a subjetividade no ato de investigar (pesquisador e pesquisado), a visão de abrangência sobre o fenômeno pesquisado, circunscrevendo-o a diversos universos fenomênicos (sociais, culturais, políticos, etc.).
Holanda (2006: 364) sustenta ainda que o propósito fundamental da abordagem qualitativa é “elucidar e conhecer os complexos processos de constituição da subjetividade”. Por isso a ponte com a fenomenologia se faz tão evidente, haja vista a ação-chave do método fenomenológico ser a compreensão, em detrimento da explicação, tão cara aos positivistas (em seus mais amplos espectros).
Uma vez que o objetivo do artigo é o debate de um determinado tema, aqui as pesquisas ditas qualitativas, o autor apresenta uma série de quetões que conduzem a discussão. Cabe aqui apontar algumas que melhor dialogam com nossa pesquisa.
Questões: Onde se encontra a chave para a questão da escolha do método? No objeto ou na forma escolhida para dar tratamento aos dados? Ou ainda: seria de fato inviável codificar os chamados fatos humanos?
Feita essa breve introdução, o autor aponta diferentes tradições em pesquisas qualitativas, tendo como base dois autores, ambos atuantes na área de psicologia humanista, John Creswell e Clark Moustakas. Holanda mistura as contribuições dos autores, apresenta aquelas que aparecem em ambos e depois aborda as abordagens exclusivas em cada um. A saber:
Tradições das pesquisas qualitativas segundo Creswell:
(1) Estudo biográfico (podem ser escritos de forma objetiva, erudita, artística ou narrativa e possuem distintos procedimentos [ver Holanda, 2006:366]) e os seguintes tipos: (a) estudo biográfico propriamente dito; (b) autobiografia; (c) história de vida; (d) história oral.
(2) Estudo de caso (foco intrínseco – singularidade do fenômeno – ou instrumental – fenômeno como ilustração).
Modelos de pesquisa qualitativa segundo Moustakas:
(1) Hermenêutica (modelo de pesquisa cujo foco está na consciência e na experiência – busca pela intenção do autor circunscrito no tempo e espaço; Círculo Hermenêutico [ver Holanda, 2006:368]);
(2) Heurística (processo auto-biográfico no qual o pesquisador se engaja na pesquisa e partilha com seu objeto os significados a ele atribuídos; seis fases do processo heurístico [ver Holanda, 2006:368]).
Pontos convergentes entre Creswell e Moustakas:
(1) Teoria fundamentada:
Creswell – modelo tem por objetivo gerar ou descobrir uma teoria a partir de uma situação na qual diferentes indivíduos interajam;
Moustakas – modelo cujo foco é decifrar os elementos da experiência. Pesquisador se torna apto a entender uma experiência para um grupo particular em um contexto particular.
Princípios básicos desse modelo de pesquisa [ver Holanda, 2006:369]
(2) Pesquisa etnográfica (gênese na antropologia cultural):
Creswell – descrição e interpretação de um grupo ou sistema cultural a partir da análise comportamental.
Moustakas – extenso trabalho de campo com observações diretas, comunicações, interatividade, entrevistas com grupo social pesquisado.
Estratégias para a condução da pesquisa etnográfica e desafios inerentes ao modelo [ver Holanda, 2006:370].
(3) Método fenomenológico:
Creswell – descrição das experiências vividas sobre o fenômeno no intuito de buscar a estrutura essencial, o significado central, do fenômeno.
Moustakas – abordagem descritiva onde o fenômeno ‘fala por si’ para compreender o que a experiência significa para as pessoas que a estão descrevendo.
Passos para estudos fenomenológicos e desafios inerentes ao modelo [ver Holanda, 2006: 371]
Outro modelo em destaque: pesquisa historiográfica ou historiografia.
Cinco formas de construção da evidência historiográfica: (1) biográfica; (2) descritiva e analítica; (3) quantitativa; (4) social e (5) psicossocial ou psicossociologia do conhecimento. [ver Holanda, 2006: 365].
Holanda finaliza o artigo apresentando aqueles que seriam os aspectos comuns aos modelos de pesquisa qualitativa que serão sumariados a seguir:
 (1) valor das metodologias qualitativas e dos estudos das experiências humanas;
(2) foco na experiência de totalidade;
(3) busca de significados e essências da experiência;
(4) relatos e descrições de experiências na primeira pessoa;
(5) dados da experiência são chaves para compreender comportamento e são evidências das investigações;
(6) formulações de questões e problemas que evidenciam engajamento do pesquisador;
(7) comportamento e experiência refletem relação integrada e inseparável entre sujeito e objeto, entre partes e o todo.
***
M. Lamego

Nenhum comentário:

Postar um comentário