04 outubro 2011

Nossas próximas atividades:

Frente 1
-Encaminhar levantamento de dados documentais;
Quiz para Expotec :
Estrutura:
-20 perguntas aproximadamente com 4 alternativas
-visualmente atraente: fotos, caricaturas, pinturas,
curiosidades do bairro, conhecimento histórico, músicas,etc.

Frente 2
Iniciar os campos:
-preparar entrevistas/roteiros
-selecionar insiders
-produção iconográfica
-fechar pontos convencionais

03 outubro 2011

Sexto Seminário - Parte IV

a apresentação ocorrida no dia 27 de setembro manteve continuidade ao seminário do dia 23, adicionando mais conhecimentos de fator metodológico ao nosso futuro trabalho de campo, e contou com a ilustre presença de André Novaes, que compartilhou conosco os bastidores de seu documentário “Vulgo Sacopã”, participando de nossas discussões.

O seminário iniciou-se com a apresentação do artigo Pesquisa de campo qualitativa: uma vivência em geografia humanista (Chiapetti, 2010) cujo propósito é relatar a metodologia e a aplicação desta em uma pesquisa de campo qualitativa: Aquela que tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social fazendo-se uso de dados qualitativos a exemplo de entrevistas e observação de campo. A autora aplica tais métodos em sua pesquisa na região do Rio das Contas, em Itacaré, Bahia, optando por entrevistas abertas como principal estratégia metodológica em campo.

Segundo a autora, as principais características de uma pesquisa qualitativa são:

· Utilizar da vivência com o grupo social no ambiente o qual este se insere para compreender a percepção e a relação entre eles, o que uma pesquisa quantitativa não permite;

· Tomar uso de aspectos subjetivos, não explícitos ou conscientes dos sujeitos da pesquisa;

· Contribuir para a valorização do lugar enquanto elemento humanizado, pois é uma pesquisa que considera afetividade e sentimentos humanos;

· A oralidade de cada sujeito como ferramenta única e distinta de pesquisa, pois este “fornece [...] elementos que nenhuma outra fonte seria capaz de dar, podendo revelar sentimentos, significados e simbolismos” (CHIAPETTI, 2010:145), assim manifestando informações sobre o coletivo com aspectos emocionais e vivências individuais.

Em seguida, Chiapetti transmite as aplicações metodológicas na sua pesquisa de campo em Itacaré. Os aspectos mais importantes abordados pela autora foram:

· A opção pela observação não-estruturada, pois procura “registrar os fatos como e na medida em que ocorrem” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:149), como decorrência de fenômenos que surgem de imprevisto, e a opção pela entrevista aberta pois “consiste num diálogo entre o pesquisador e o sujeito participante” (LÜDKE e ANDRÉ apud CHIAPETTI, 2010:148), onde o pesquisador apenas conduz o sujeito para que este não perca o foco do assunto o qual deve ser abordado;

· A importância de Jefferson, morador local, que além de conhecer bem o município, mantinha laços de respeito e afetividade pelos moradores, e segundo a autora, sem ele seria quase impossível fazer as entrevistas, pois demandaria muito tempo para os moradores locais confiarem em quem não conhecem para compartilharem fatos de suas vidas;

· Os critérios para a seleção de sujeitos entrevistados, que foram espontaneidade e voluntarismo (ser entrevistado de livre vontade);

· A definição do ponto de saturação como “quando as informações novas vão ficando cada vez mais raras, até deixarem de ser relevantes” (DENCKER apud CHIAPETTI, 2010:153);

· A caracterização dos sujeitos da pesquisa, “já que eles não são, somente, fonte de informação, mas também autores, pois suas vivências no rio das Contas [...] foram nossas fontes de reflexão” ( CHIAPETTI, 2010:148);

· A leitura das emoções do entrevistado: De seus gestos e olhares à sua entonação de voz, o que contribuiu para a veracidade das informações coletadas, dando o valor emotivo que cabe a cada afirmação;

· A transcrição dos dados coletados, primeiramente transcrevendo-os sem haver preocupação de limpar o texto e de corrigir erros gramaticais, pois nestes fatos ainda podem conter emoções captáveis, para a sua então correção, tomando cuidado para não alterar os significados dados pelos sujeitos.

Enfim, a autora afirma que o método e técnicas adotadas para a pesquisa de campo corresponderam aos objetivos de uma pesquisa qualitativa, e ela ainda agrupa a interpretação das entrevistas coletadas em quatro grupos: Trabalho, subsistência, pertença e alegria. Essas quatro categorias conteriam os laços de afetividade sentidos na relação dos sujeitos com o que o rio representa para eles, e finalmente, a autora conclui que os significados dados ao rio pelos locais são inseparáveis da emoção.

Este texto não apenas nos auxilia com relação aos métodos, mas também cita as ferramentas de uso que utilizaremos em nossa pesquisa, no caso, a oralidade a partir de entrevista aberta e observação não estruturada, e aborda o que deve ser feito ao seu término, relatando o processo de transcrição de dados. Ainda, o texto conclui-se dando margem ao debate: Quais serão as nossas categorias de interpretação de dados coletados?

Por fim, Dr. André Reyes Novaes, professor de geografia humana da UERJ, comentou conosco fatos a serem abordados de seu filme “Vulgo Sacopã” e de sua pesquisa sobre o morro atrelada a este filme que são aplicáveis a nossa pesquisa, tal como a metodologia por trás dos depoimentos fornecidos por Toni B, personagem principal do filme, que encaixam perfeitamente com nossa pesquisa de campo que em comum explora da oralidade uma de suas principais fontes de pesquisa.

Miguel de Sousa.

02 outubro 2011

Sexto Seminário - Parte III

A análise e apresentação do artigo “Questões sobre pesquisa qualitativa e pesquisa fenomenológica” (Holanda, 2006) ficou sob minha responsabilidade. O ponto de partida do autor no artigo é a célebre frase do filósofo e, considerado um dos pais da Fenomenologia, Merleau-Ponty, segundo a qual “é o homem que investe o mundo de significados”. Tal frase encaminha a natureza do artigo cujo objetivo é debater acerca do método fenomenológico aplicado nas chamadas pesquisas qualitativas desenvolvidas na psicologia, entendendo esse método como um modelo compreensivo.
Após apontar uma possível, uma vez que são inúmeras, definição dos métodos qualitativos segundo o sociólogo francês Laurent Mucchielli que sugere que a impossibilidade de medida dos fenômenos humanos é o que se encarrega de definir um método específico das ciências humanas.
Essa seria uma definição metodológica dos métodos, mas haveria, segundo Holanda (2006) uma definição epistemológica uma vez que a investigação qualitativa inclui a subjetividade no ato de investigar (pesquisador e pesquisado), a visão de abrangência sobre o fenômeno pesquisado, circunscrevendo-o a diversos universos fenomênicos (sociais, culturais, políticos, etc.).
Holanda (2006: 364) sustenta ainda que o propósito fundamental da abordagem qualitativa é “elucidar e conhecer os complexos processos de constituição da subjetividade”. Por isso a ponte com a fenomenologia se faz tão evidente, haja vista a ação-chave do método fenomenológico ser a compreensão, em detrimento da explicação, tão cara aos positivistas (em seus mais amplos espectros).
Uma vez que o objetivo do artigo é o debate de um determinado tema, aqui as pesquisas ditas qualitativas, o autor apresenta uma série de quetões que conduzem a discussão. Cabe aqui apontar algumas que melhor dialogam com nossa pesquisa.
Questões: Onde se encontra a chave para a questão da escolha do método? No objeto ou na forma escolhida para dar tratamento aos dados? Ou ainda: seria de fato inviável codificar os chamados fatos humanos?
Feita essa breve introdução, o autor aponta diferentes tradições em pesquisas qualitativas, tendo como base dois autores, ambos atuantes na área de psicologia humanista, John Creswell e Clark Moustakas. Holanda mistura as contribuições dos autores, apresenta aquelas que aparecem em ambos e depois aborda as abordagens exclusivas em cada um. A saber:
Tradições das pesquisas qualitativas segundo Creswell:
(1) Estudo biográfico (podem ser escritos de forma objetiva, erudita, artística ou narrativa e possuem distintos procedimentos [ver Holanda, 2006:366]) e os seguintes tipos: (a) estudo biográfico propriamente dito; (b) autobiografia; (c) história de vida; (d) história oral.
(2) Estudo de caso (foco intrínseco – singularidade do fenômeno – ou instrumental – fenômeno como ilustração).
Modelos de pesquisa qualitativa segundo Moustakas:
(1) Hermenêutica (modelo de pesquisa cujo foco está na consciência e na experiência – busca pela intenção do autor circunscrito no tempo e espaço; Círculo Hermenêutico [ver Holanda, 2006:368]);
(2) Heurística (processo auto-biográfico no qual o pesquisador se engaja na pesquisa e partilha com seu objeto os significados a ele atribuídos; seis fases do processo heurístico [ver Holanda, 2006:368]).
Pontos convergentes entre Creswell e Moustakas:
(1) Teoria fundamentada:
Creswell – modelo tem por objetivo gerar ou descobrir uma teoria a partir de uma situação na qual diferentes indivíduos interajam;
Moustakas – modelo cujo foco é decifrar os elementos da experiência. Pesquisador se torna apto a entender uma experiência para um grupo particular em um contexto particular.
Princípios básicos desse modelo de pesquisa [ver Holanda, 2006:369]
(2) Pesquisa etnográfica (gênese na antropologia cultural):
Creswell – descrição e interpretação de um grupo ou sistema cultural a partir da análise comportamental.
Moustakas – extenso trabalho de campo com observações diretas, comunicações, interatividade, entrevistas com grupo social pesquisado.
Estratégias para a condução da pesquisa etnográfica e desafios inerentes ao modelo [ver Holanda, 2006:370].
(3) Método fenomenológico:
Creswell – descrição das experiências vividas sobre o fenômeno no intuito de buscar a estrutura essencial, o significado central, do fenômeno.
Moustakas – abordagem descritiva onde o fenômeno ‘fala por si’ para compreender o que a experiência significa para as pessoas que a estão descrevendo.
Passos para estudos fenomenológicos e desafios inerentes ao modelo [ver Holanda, 2006: 371]
Outro modelo em destaque: pesquisa historiográfica ou historiografia.
Cinco formas de construção da evidência historiográfica: (1) biográfica; (2) descritiva e analítica; (3) quantitativa; (4) social e (5) psicossocial ou psicossociologia do conhecimento. [ver Holanda, 2006: 365].
Holanda finaliza o artigo apresentando aqueles que seriam os aspectos comuns aos modelos de pesquisa qualitativa que serão sumariados a seguir:
 (1) valor das metodologias qualitativas e dos estudos das experiências humanas;
(2) foco na experiência de totalidade;
(3) busca de significados e essências da experiência;
(4) relatos e descrições de experiências na primeira pessoa;
(5) dados da experiência são chaves para compreender comportamento e são evidências das investigações;
(6) formulações de questões e problemas que evidenciam engajamento do pesquisador;
(7) comportamento e experiência refletem relação integrada e inseparável entre sujeito e objeto, entre partes e o todo.
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M. Lamego

Sexto Seminário- Parte II


Ainda no dia 21 de setembro houve a apresentação do texto O Geógrafo e a Pesquisa de Campo (2006) de Bernard Kaiser que procura explicar como deve ser realizada uma pesquisa de campo seguindo a linha da geografia marxista. Não é à toa que o autor inicia o texto com uma célebre frase proferida por Mao Tsé-Tung: “Sem pesquisa de campo ninguém tem direito a falar”.
Kaiser diz que para conhecermos realmente a realidade pesquisada devemos conhecer a SITUAÇÃO SOCIAL LOCAL e isso, segundo ele, só é possível através da PESQUISA DE CAMPO. Seguindo as ideias marxistas, a situação social é produto da história e da luta de classes, então o pesquisador, antes de ir a campo, deve se informar a respeito da história local e no campo deve se inteirar da relação existente entre os atores sociais, ou seja, da relação entre as camadas sociais, o aparato do Estado, as mídias e as ideologias (KAISER,2006;97). O autor também fala a respeito da importância de se adquirir uma base teórica e uma educação política, ou seja, uma capacidade de análise crítica, antes de ir a campo, do cuidado que devemos ter com certos tipos de material teórico que podem deformar antecipadamente nossa capacidade de análise e do cuidado para não conduzirmos o resultado de nossa pesquisa.
Kaiser descreve como deve ser o procedimento inicial do pesquisador em campo: ... o pesquisador não realizará uma listagem enorme de questionários, uma bateria de magnetofones, um arsenal de aparelhos de fotos e câmeras: ele não sai nem mesmo com seu caderno de notas!{...} ele deve passear longamente, tranquilamente; que se impregne da atmosfera social; que se procure o que realmente preocupa e distinga nas conversações banais os sinais da tensão profunda. E sobretudo que ele se ponha a compreender a história. A análise histórica é desde logo indispensável a quem realiza a pesquisa.” (KAISER,2006;99)
Outra questão muito importante é não ir a campo como quem vai ao zoológico ou ao safári, ou seja, procurando o anedótico, o exótico e o singular e sim, “tentar prender-se aos estudos de seus problemas (dos inquiridos), colocar às claras os conflitos nos quais eles estão implicados, notar a infinidade de laços e de fluxos que integram seu sub-sistema no sistema social geral...” (KAISER, 2006;100)
Em determinado momento teremos que começar a fazer uso de questionários sistemáticos e técnicas de pesquisa que, aliados a memória individual e coletiva, nos farão entender a situação social atual.
Kaiser diz para termos cuidado com a subjetividade das coisas como, por exemplo, com o fato de termos mais facilidade para falar com pessoas que tenham o mesmo universo cultural que o nosso, o que pode influenciar o resultado da pesquisa, mas durante a apresentação concordamos que o pesquisador e o inquirido terem um universo cultural comum não é necessariamente ruim para a pesquisa.
O autor fala também da importância de conseguirmos articular os resultados locais da pesquisa com o global, porém concordamos que talvez não seja possível fazermos isso em nossa pesquisa, pelo menos não propositalmente.
Por fim, Kaiser faz uma reflexão acerca da utilidade da pesquisa de campo, dizendo que devemos fazer uma RESTITUIÇÃO À FONTE, ou seja, os resultados obtidos devem ser apresentados aos inquiridos e se possível, devem se transformar em algo benéfico para a população local como um todo.
Amana Iquiene