07 setembro 2011

Terceiro Seminário - I

O terceiro seminário foi realizado no dia 31 de Agosto e abordou dois textos, um conduzido pela Luiza Serafim e outro pela Renata Nogueira.

O primeiro texto apresentado foi “O Mar por Tradição: o património e a construção das imagens do turismo” de Elsa Peralta. Esse texto é um artigo, que “analisa a forma como o patrimônio é utilizado para fornecer o suporte cenográfico à construção dos destinos turísticos.” (Peralta, 2003). A autora usa como exemplo a cidade de Ílhavo, Portugal, onde a forte tradição pesqueira decaiu por conta de restrições à pesca nos anos de 1970 e, como conseqüência, o governo decidiu apostar no turismo.

Assim, ela começa analisando os usos do patrimônio, que são de grande importância para a construção do destino turístico, principalmente em cidades como Ílhavo. Há, inicialmente, o uso com valor de Identificação Simbólica, o uso para Recriação da História e o uso do Poder Político. Podemos destacar algumas citações, que apresentam esses usos:

“[O patrimônio] É uma síntese simbólica, permeável às flutuações da moda e aos critérios de gosto dominantes e matizada pelo figurino intelectual, cultural e psicológico de uma época, que compreende todos aqueles elementos que fundam a identidade de um grupo e que os diferenciam dos demais.” (Talavera, 1998, apud Peralta, 2003:85)

“O património, como interpretação do passado, é uma recriação da história, que emana visões essencialistas do passado e neutraliza as contingências históricas. É história ficcionada através da mitologia, da ideologia e do nacionalismo [...] O legado patrimonial é, assim, um legado falsificado para fins de identificação coletiva” (Peralta, 2003:86)

“O património fornece os símbolos para a criação de uma “mitologia retrospectiva”, um conjunto de representações que favorece a coesão social ao mesmo tempo que legitima as instituições sociais que emanam estes mitos na medida em que suprimem a contradição e a tensão, as dialécticas desfragmentadoras da realidade e a contestação” (Hobsbawm, 1992, apud Peralta, 2003:86)

Posteriormente, a autora analisa o uso do patrimônio a partir do aproveitamento turístico, que também se encaixa em Ílhavo, mostrando assim, o que se foi pensado para a diferenciação de Ílhavo como destino turístico e como se deu a criação do slogan “ O Mar por Tradição”, que seria um Mar maior, de cultura, história e identidade; pura representação de Ílhavo.

Ela cita Selwyn (1996, apud Peralta, 2003:88) “[...] o que faz com que um destino turístico seja atractivo é o facto de se pensar que tem uma característica especial, um ‘espírito de lugar’ especial [...]” e também McCannell (1976, apud Peralta, 2003, p.88-89) que diz que a motivação do turista se dá a partir do desejo de “recuperação mitológica das estruturas tradicionais que conferiam à vida um sentido de totalidade e que foram demolidas pela modernidade”. A partir disso, pode-se dizer que se busca o “outro autêntico” para assim encontrar o “eu autêntico” (Selwyn, 1996, apud Peralta, 2003:89).

Conclui-se assim, que existe uma reciprocidade, “uma relação de complementaridade e retroalimentação” entre os usos do patrimônio.

“[...] a valorização dos destinos turísticos varia em função do grau de sacralização que lhes é conferido.” (Graburn, 1989, apud Peralta 2003:93)


Luiza Serafim.


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