29 setembro 2011

Sexto Seminário - Parte I

O sexto seminário, realizado no dia 21 de setembro, contou com apresentações de textos mais técnicos, onde discutimos sobre o método de pesquisa que será utilizado durante o trabalho de campo.

Eu fui a primeira condutora do dia e meu texto foi “Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo” de Rosália Duarte. O texto foi baseado em uma pesquisa onde o objeto de estudo era o processo de formação do cineasta brasileiro e discutiam-se as dificuldades enfrentadas por pesquisadores em trabalho de campo, com relação ao uso de metodologias de base qualitativa, e tentava-se também solucionar alguma dessas dificuldades para contribuir com a adoção deste tipo de pesquisa.

O texto se inicia comparando a pesquisa como um relato de longa viagem, onde cada pessoa tem uma diferente experiência ou lembrança sobre um mesmo lugar, onde cada um lança, sobre uma determinada realidade, um olhar. Logo depois temos a “construção do objeto” (Brandão, 2000) que seria a escolha do objeto de estudo e a utilização da metodologia mais adequada para a análise do mesmo.

-“Se nossas conclusões somente são possíveis em razão dos instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso dos instrumentos permite chegar, relatar procedimentos de pesquisa, mais do que cumprir uma formalidade, oferece a outros a possibilidade de refazer o caminho e, desse modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos.” (Duarte, 2002:140)

A partir daqui começam a surgir os problemas que podem ocorrer durante uma pesquisa de base qualitativa.

-1º problema: A importância da seleção de sujeitos

Neste primeiro problema a autora nos mostra que a seleção de sujeitos para a realização de entrevistas é algo muito importante, já que isso refletirá diretamente na qualidade das informações coletadas e a partir das quais serão construídas análises sobre o objeto de estudo. Então como saber quem entrevistar? Na pesquisa a qual este texto foi baseado foi utilizado um método de rede social, onde a partir de uma pessoa daquele meio cultural era possível conhecer outras cada vez mais importantes no setor.

-2º problema: O que importa é qualidade e não quantidade.

Neste tópico nota-se a importância da qualidade da informação e não a da quantidade de sujeitos. Independente de quantas pessoas são entrevistadas devemos estar sempre atento as informações que estas nos passam.

Este tipo de trabalho de campo tem como objetivo “compreender as redes de significado a partir do ponto de vista do ‘outro’, operando com a lógica e não apenas com a sistematização de suas categorias” (Dauster, 1999 apud Duarte, 2002:145)

-3º problema: Onde realizar as entrevistas.

Deve-se evitar que as entrevistas sejam realizadas em local de trabalho, porque isto tira toda atenção do entrevistado, ele fica preocupado com ligações e decisões e torna a entrevista improdutiva. O melhor lugar para a realização das mesmas é na casa do entrevistado, pois há menos preocupação com o tempo, há mais liberdade de expressão, além de serem mais densas e produtivas.

-4º problema: Entrevista exige experiência.

Por mais que você saiba o que está buscando, você só aprende a melhor maneira de conduzir uma entrevista, a melhor postura adequada, a analisar gestos, a avaliar seu grau de indução com a experiência, e assim podemos nos avaliar e corrigir.

-5º problema: Risco de perder o foco da entrevista.

A melhor maneira de se coletar depoimentos é deixar o entrevistado livre para expressar seus ideais, contar seus gostos e experiências. No entanto, isso pode fazer com que a entrevista perca seu foco se informações que não são interessantes a pesquisa começarem a surgir, então cabe ao entrevistador conduzi-la de volta ao foco.

-6º problema: O entrevistador, o entrevistado e um mesmo universo cultural.

Essa proximidade pode causar uma interferência muito grande no discurso dos sujeitos e pode-se perder os diferentes pontos de vistas que a pesquisa qualitativa pode oferecer, então deve-se haver um distanciamento.

-7º problema: Garantia de confiabilidade.

Como saber se as informações colhidas são verídicas? O texto apresenta dois métodos: apresentar estas informações a pessoas que não fazem parte da entrevista e que participam daquele meio cultural para que estas validem as informações ou apresenta-se parte do material bruto ao leitor para que o mesmo possa tirar suas próprias conclusões.

-8º problema: As perguntas.

O roteiro da entrevista deve ser constantemente revisado para que caso haja alguma pergunta ambígua ou que gere informações descartáveis, esta seja retirada ou reformulada, porque ao tentar explicar uma pergunta podemos acabar dizendo ao entrevistado o que esperamos que ele responda.

-9º problema: dificuldade em arquivar o material recolhido.

Métodos qualitativos fornecem dados densos e difíceis de analisar, toda e qualquer forma de contato é um material de análise, desde um telefonema, um email, uma carta, gestos e sinais do entrevistado até a postura e o interesse do mesmo pela pesquisa. Logo, o primeiro passo a seguir é organizar e separar em categorias todas as informações. Para facilitar esta parte, a autora indica dois programas Folio Views e NUD*IST que gerenciam e exploram diferentes documentos, criam categorias, fazem cruzamentos, uniões, importam e exportam dados, armazenam idéias, além de estabelecer possíveis análises para a construção de hipóteses e a construção de teoria a partir de combinação de materiais.

-“Assim, fragmentos de discursos, imagens, trechos de entrevistas, expressões (...) constituem traços, elementos em torno dos quais construir-se-ão hipóteses e reflexões, serão levantadas duvidas ou reafirmadas convicções.” (Duarte,2002:152)

-“Daqui pra frente trata-se de produzir “resultados” e explicações cujo grau de abrangência e generalização depende do tipo de ponte que se possa construir entre o microuniverso investigado e universos sociais mais amplos.” (Duarte,2002:152)

De acordo com este texto, concluímos que devemos sim adotar o método de pesquisa qualitativa pois é o que mais se encaixa na nossa proposta. Devemos apenas tomar cuidado para que não ocorra os problemas indicados acima e utilizar as dicas dadas pela autora.


Caroline Araujo.

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